Pesquisadores brasileiros descobrem por que idosos tendem a ser mais vulneráveis a formas graves de covid-19
Estudo contou com dados referentes a autoanticorpos de 159 pacientes com coronavírus que apresentavam diferentes graus de gravidade
Estudo publicado nesta quinta-feira (24) na revista NPJ Aging, do grupo Nature, revela que a infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2 pode disparar a produção de autoanticorpos – moléculas relacionadas, entre outros fatores, às doenças autoimunes. O achado explica por que os idosos tendem a ser mais suscetíveis à covid-19 e o motivo de a forma grave da doença estar relacionada com distúrbios de coagulação sanguínea, como trombose.
— A descoberta abre caminho para entendermos uma série de eventos patológicos decorrentes da covid-19, que vão desde a perda de memória até a morte súbita por trombose de maior dimensão. A hiperinflamação característica da covid-19 grave e o aumento dos autoanticorpos geram o trombo e, por consequência, a necessidade de reconstruir tecido e de recrutar uma cascata de coagulação — afirma Otávio Cabral-Marques, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e coordenador do estudo.
Segundo Cabral-Marques, a elevação dos níveis de autoanticorpos (anticorpos que reconhecem uma ou mais proteínas do próprio indivíduo, podendo causar danos ao organismo) observada em pacientes com covid-19 grave pode eventualmente valer para outras patologias:
Dados da pesquisa
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores analisaram dados referentes a autoanticorpos de 159 pacientes com coronavírus que apresentavam diferentes graus de gravidade: 71 tinham doença leve, 61 moderada e 27 grave. Também foram analisadas amostras de 73 indivíduos saudáveis, que serviram como controle.
— Ao cruzar os dados por meio de técnicas de inteligência artificial, descobrimos dois autoanticorpos principais que estavam exacerbados nos pacientes com sintomas graves. São justamente os autoanticorpos associados à formação de trombos e trombocitopenia (número reduzido de plaquetas no sangue, condição que aumenta o risco de hemorragia) — conta Dennyson Leandro M. Fonseca, coautor do artigo.
Fonseca explica que altos níveis desses autoanticorpos podem fazer com que o próprio organismo gere o dano tecidual:
— Dividimos os dados entre jovens e idosos e, com isso, observamos que, embora esse mecanismo também possa acontecer entre pessoas com menos de 50 anos, ele torna o idoso mais suscetível ao agravo da doença. Isso justifica o fato de a idade ser um dos principais fatores de risco para a covid-19.
Apesar do aumento sutil de autoanticorpos fazer parte do processo natural de envelhecimento, os cientistas observaram que, diante da infecção pelo SARS-CoV-2, há uma exacerbação dos níveis dessas moléculas no organismo, sobretudo em pacientes graves.
Estudos anteriores já haviam demonstrado que autoanticorpos neutralizantes de proteínas que integram a primeira linha de defesa antiviral estavam presentes na população em geral e cresciam dramaticamente em pacientes idosos com coronavírus. O estudo agora publicado na revista NPJ Aging expande a variedade de autoanticorpos associados ao envelhecimento.
Os autores do artigo ainda não estão certos sobre o que vem primeiro: o agravo da covid-19 ou o aumento dos níveis de autoanticorpos. Em termos estatísticos, segundo Fonseca, é possível crer que “os dois eventos ocorrem de forma mútua e bidirecional”.
Pingback: jazz cafe